Voltando para casa você é assaltado na divisa do seu bairro. Isso é mais um dia cotidiano na sociedade brasileira?
Em meio à insegurança, solidão e desconforto, a raiva cresce e dá espaço à vontade, inspiração, força, e arte. Dessa forma, surge o EP “Sangue, Suor e Assalto”, onde a Limbo7 busca não só representar o trabalho, os esforços dos que não têm privilégios, a guerra e o medo sentido diariamente; mas também, dar voz a esses gritos de resistência que são guiados pela determinação e valentia do povo.
Como a ideia surgiu?
Essa história começa a ser escrita em Feu Rosa, bairro da Serra-ES, onde mora o baixista Fagner Gabriel. Suas vivências são o gatilho inicial para a criação do EP, e principalmente para a música que leva o título do formato estendido.
O ano é 2022 e após ser assaltado, o baixista e compositor se encontra submerso em pensamentos negativos, quando vai à praça perto de sua casa e observa o dia-a-dia carregado de desconfiança, violência e medo:
“Tipo assim, cara, eu não posso confiar em ninguém aqui. Eu acho que ninguém confia em mim também. Mas, ao mesmo tempo, eu comecei a ver que ainda assim, as pessoas se gostam, sabe? Eu vi as crianças jogando bola de noite na praça até meia-noite por aí sem se importar com porra nenhuma, tá ligado? Então eu comecei a ver ali que elas não estavam partilhando dos mesmos medos que eu. Eu olhava pras crianças e pensava: Caralho, acho que só voltando nesse tempo pra não ver maldade em tudo.”
- Fagner Gabriel (Baixista e compositor).
As anotações dessa noite na praça em Feu Rosa viraram letra, e desde então, o conceito apresentado vem sendo trabalhado pela banda.
Montando o EP: a construção do conceito
A música “S.S.A” criou a atmosfera perfeita para trazer projetos que já vinham sendo produzidos desde o surgimento do grupo, e inclusive, tocados frequentemente em shows. A Limbo7 pôde desenvolver um conceito explorando múltiplos temas mantendo esse ponto de partida. Assim, foi criada uma intro e as outras quatro faixas foram escolhidas, somando seis músicas, e uma colaboração com o Caio MacBeserra, vocalista da Project46.
“Essas músicas ficaram fermentando, fermentando… Passando por várias mudanças, revisões, mudança de trecho, mudança ali, mudança aqui. As únicas coisas que não mudaram nelas realmente foram as letras. As letras realmente permaneceram constantes. E são letras que dizem muito... casaram muito bem com aquilo que o Fagão estava falando, mano. Cada música dentro do EP é temática [...]. Tem letras que dizem muito sobre a nossa vida, como a nossa vivência dentro da banda. São letras muito pessoais, digamos assim. Tem letras que vão falar de trabalho, como “Proletário” fala, literalmente sobre vivência de trabalho mesmo, de exploração. Tem letras como “Sem Amor”, que basicamente fala sobre preconceito, fala sobre o falso moralismo, então você tem uma diversidade de temas ali dentro desse EP que também dizem respeito às mesmas vivências, às vivências das mesmas pessoas.”
- Pedro Bautz (Guitarrista e compositor)
O single “Proletário” lançado em Maio de 2024 já anunciava o que estava por vir. O videoclipe trouxe à tona a rotina da massa produtora, apresentando um enredo com cenas gravadas nas ruas do bairro de Laranjeiras e transportes públicos. A história contada na produção audiovisual termina em um show da Limbo7, onde o personagem principal pode compartilhar de alegrias com seus semelhantes.
Assista:
Lançamento!
No dia 23 de Setembro de 2024, Sangue, Suor e Assalto estava no mundo!
Sua estreia não poderia ter sido mais aclamada e comemorada por toda a cena underground. Durante o evento de lançamento, realizado no Correria Music Bar, cinco bandas se apresentaram mostrando seu trabalho cover e autoral.
A Limbo7 fechou a noite com a participação de Caio MacBeserra no palco. O show não decepcionou, contando até mesmo com pessoas penduradas no teto durante o mosh pit.
Esse trabalho trouxe maturidade e uma certa responsabilidade devido a tudo que foi desenvolvido desde o surgimento da banda. Sem deixar de gritar por revolta e indignação, o EP busca aproximar e lembrar ao público daquilo que se é, rememorando a realidade e a felicidade escondida dentro dela. Aqui é o momento de dar voz aos valores e reforçar mais uma vez quais são os objetivos e as lutas às quais o grupo se alia.
Redação: Alexia Müller